Só que estou na minha casa de memórias procuro dela sair.
Incomodam-me
estas coisas que restam, pedaços de mim que me não largam.
Não encontro a
porta.
Porventura não a quero encontrar porque são meus aqueles pedaços.
Esquecê-los, destruí-los, seria esquecer-me de mim.
E se eu de mim não
lembro, quem se lembrará?
Fico, então, por aqui, revendo isto, recheirando
aquilo, chafurdando em mim.
Tenho que fazer meus aqueles pedaços de mim.
Porque o são.
Vislumbro, assim procedendo, a porta por onde entrei.
Mas
não é porta. Porque não é casa.
Não existe isso da casa. Não sou aldeia com
ruas e moradias, quelhas e prédios.
Sou só e sempre eu. Só.
Seguirei
o caminho pavimentado com o que fiz, faço e farei. Onde me leva, para onde vou,
não sei.
Saí de coisa nenhuma, mas saí.
Sei que não estarei só.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Coisas que não sei
Dançam em mim coisas que não sei. Mas como volteiam se as não sei? Talvez porque apenas as persigo com o olhar sem as ver. Não sei, portanto, que coisas são essas. Sei apenas que por ali andam à espera não sei de quê ou, quem sabe, porque eu não sei, somente esperando que eu as veja.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Entretém
Esta palavra.
Quem se entretém está aquém do ter e, se assim se mantiver, nunca lá há-de chegar.
Está num intervalo do que seja.
Entretenho-me, assim, nisto, e nada chego a ter. Fico entre o aqui e o ali, algures no meio de coisa nenhuma.
E, no entanto, nesta terra de ninguém, encontro o conforto de nada ser ou ter.
Ter e Ser - tão distintas coisas e tão confundidas hoje.
Mas muito mais difícil a segunda.
Por isso, por comodidade, talvez, nos habituámos a Ser o que Temos.
Ora, se Somos o que Temos, se isso queremos e aceitamos, estamos verdadeiramente perdidos naquele entretém.
Ficamos frágeis porque o Ter se perde e destroi muito mais facilmente do que o Ser.
Tentemos, por isso, deixar o entre e o ter e procuremos Ser.
Por mais difícil que Ser seja.
Quem se entretém está aquém do ter e, se assim se mantiver, nunca lá há-de chegar.
Está num intervalo do que seja.
Entretenho-me, assim, nisto, e nada chego a ter. Fico entre o aqui e o ali, algures no meio de coisa nenhuma.
E, no entanto, nesta terra de ninguém, encontro o conforto de nada ser ou ter.
Ter e Ser - tão distintas coisas e tão confundidas hoje.
Mas muito mais difícil a segunda.
Por isso, por comodidade, talvez, nos habituámos a Ser o que Temos.
Ora, se Somos o que Temos, se isso queremos e aceitamos, estamos verdadeiramente perdidos naquele entretém.
Ficamos frágeis porque o Ter se perde e destroi muito mais facilmente do que o Ser.
Tentemos, por isso, deixar o entre e o ter e procuremos Ser.
Por mais difícil que Ser seja.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
O início.
Não é inocente, ou melhor, que de inocência não falamos, não é por acaso, que este é o primeiro post deste blog.
Surge, neste dia, com o conteúdo que se segue, porque pretendo também celebrar uma certa independência.
Minha e de mim.E aqui vai.
1 de Dezembro de
2014.
Há 374 anos,
nesse dia e mês, ocorreu a Restauração da Independência de Portugal.
Esse dia,
designado como Primeiro de Dezembro ou Dia da Restauração, foi comemorado
anualmente em Portugal desde o tempo da Monarquia Constitucional. Em 1910, uma
das primeiras decisões da República Portuguesa foi passá-lo a feriado nacional
como medida popular e patriótica.
E assim foi,
até recentemente.
No mesmo dia,
mas do ano de 1934,1934, ocorreu a publicação da única obra literária completa,
publicada em vida, por Fernando António Nogueira Pessoa - "Mensagem".
Aqui fica
registado e, em parte recordada, quer o dia, quer a obra:
PRIMEIRA
PARTE: BRASÃO
Bellum sine
bello.
I. OS CAMPOS
PRIMEIRO / O
DOS CASTELOS
«A Europa jaz,
posta nos cotovelos:
De Oriente a
Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe
românticos cabelos
Olhos gregos,
lembrando.
O cotovelo
esquerdo é recuado;
O direito é em
ângulo disposto.
Aquele diz
Itália onde é pousado;
Este diz
Inglaterra onde, afastado,
A mão
sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com
olhar sphyngico e fatal,
O Ocidente,
futuro do passado.
O rosto com
que fita é Portugal.»
SEGUNDA PARTE:
MAR PORTUGUEZ
Possessio
maris.
II. HORIZONTE
«O mar
anterior a nós, teus medos
Tinham coral e
praias e arvoredos.
Desvendadas a noite
e a cerração,
As tormentas
passadas e o mistério,
Abria em flor
o Longe, e o Sul sidério
'Splendia
sobre as naus da iniciação.
Linha severa
da longínqua costa —
Quando a nau
se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores
onde o Longe nada tinha;
Mais perto,
abre-se a terra em sons e cores:
E, no
desembarcar, há aves, flores,
Onde era só,
de longe a abstrata linha
O sonho é ver
as formas invisíveis
Da distância
imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da
esp'rança e da vontade,
Buscar na
linha fria do horizonte
A árvore, a
praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos
merecidos da Verdade.»
e, ainda:
TERCEIRA
PARTE: O ENCOBERTO
Pax in
excelsis.
III. OS TEMPOS
QUINTO /
NEVOEIRO
«Nem rei nem
lei, nem paz nem guerra,
Define com
perfil e ser
Este fulgor
baço da terra
Que é Portugal
a entristecer —
Brilho sem luz
e sem arder,
Como o que o
fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe
que coisa quer.
Ninguém
conhece que alma tem,
Nem o que é
mal nem o que é bem.
(Que ânsia
distante perto chora?)
Tudo é incerto
e derradeiro.
Tudo é
disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal,
hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Valete,
Frates.»
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